3 – SANTIAGO ZEBEDEO: ENTRE A HISTÓRIA E A LENDA

 Tradução por Paulo Santos

         Esta análise deve começar na figura do Apóstolo Santiago, figura que está entre a História e a Lenda.

santiago          Historicamente é bem identificável como Santiago, o Maior, irmão de João Evangelista, filho de Zebedeu e Salomé, residente em Betsaida, nas margens do denominado Mar da Galileia, onde a sua família exercia atividade piscatória e portanto possuía uma certa categoria social. Os irmãos Santiago e João devem ter tido uma educação, própria das escolas rabínicas, de formação superior à média da vida judia, com contacto frequente com a cultura grega e a sua língua, então muito difundida nas margens do Mar da Galileia. Deste modo, João, irmão de Santiago e discípulo amado do Senhor – [Mas Pedro ficou de fora, perto da porta. Então o outro discípulo, que era conhecido do sumo sacerdote… – Jo 18:16], recebeu do Mestre cruxificado, o encargo de cuidar da sua mãe – [Depois disse ao discípulo: «Eis aí a tua mãe». E dessa hora em diante, o discípulo recebeu-a em sua casa. – Jo 19:27].

 Imagen4         A descoberta de uma barca do século I, exposta no museu do Kibut Ginosar (Galileia), em que alguns querem crer tratar-se da barca dos apóstolos pescadores, onde também navegou Jesus Cristo, quando muito demonstra como seria a vida dos primeiros apóstolos e em que âmbito se produziu o apelo aos primeiros escolhidos.

Dibujo terminado corregido sepia

          O apelo de Cristo aos apóstolos conta-se de forma sintética nas escrituras, deduzindo-se pelas mesmas, que entre Cristo e Santiago existiu uma relação pessoal, com ligação familiar, dado que eram primos, por parte de mãe. Várias passagens evangélicas afiançam a relação e convivência entre a Virgem Maria e Salomé, mãe de Jesus e Santiago, respetivamente. João, no seu relato evangélico – [Jesus viu sua mãe e, ao lado d`Ela, o discípulo que Ele amava. Então disse a sua Mãe: «Mulher, eis o aí o teu filho». Depois disse ao discípulo: «Eis aí a tua Mãe». E, dessa hora em diante, o discípulo recebeu-A em sua casa. – Jo 19:26-27], em relação a Cristo crucificado sita Maria e Salomé como a mãe e a irmã desta, revelando um parentesco muito estreito, possivelmente irmãs carnais. Salomé era uma das mulheres do grupo de discípulos mais chegados a Cristo, que conhecia o seu especial carisma, manifestado desde a sua adolescência, quando Jesus se perdeu e o foram encontrar com os doutores – [Três dias depois encontraram o Menino no Templo. Estava sentado no meio dos doutores, a ouvi-los e a fazer-lhes perguntas. Todos os que ouviam o Menino estavam maravilhados com a inteligência das suas respostas. Ao vê-lo os seus pais ficaram emocionados. Sua Mãe disse-lhe: «Meu filho, porque fizeste isto connosco? Olha que o teu pai e eu andávamos angustiados, à tua procura» Jesus respondeu: «Porque me procuráveis? Não sabíeis que Eu devo estar na casa do meu Pai?» Mas eles não compreenderam o que o Menino acabava de lhes dizer. – Lc 2:46-50].

          As suas cidades natais eram próximas (entre Belém e Yafía dista cerca de 3 quilómetros) tendo o relacionamento familiar sido interrompido, talvez pelas respetivas obrigações profissionais. Jesus na carpintaria, em Nazaré, é identificado como “o carpinteiro” nas escrituras – [«Este homem não é o carpinteiro, filho de Maria e irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão? E a suas irmãs não moram aqui connosco?» E ficaram escandalizados por causa de Jesus. – Mc 6:3] e Santiago dedicava-se à atividade piscatória, em Betsaida.

 Bautismo de Jesús         Um vínculo relevante entre Jesus e os primeiros apóstolos foi João Batista, também parente de Jesus por via materna, revelado por João e André que, Jesus era o Messias esperado, e que também informaram Santiago, Pedro, e outros amigos de Betsaida, onde surge o primeiro núcleo de discípulos e apóstolos, de acordo com o que relata o apóstolo e evangelista João, como protagonista direto dos factos – [No dia seguinte, João estava lá de novo, com dois discípulos. Vendo Jesus que passava apontou: «Eis o cordeiro de Deus». Ouvindo estas palavras, os dois discípulos seguiram Jesus. Jesus virou-Se e, vendo que O seguiam, perguntou: «Que procurais?». Eles disseram «Rabi (que quer dizer Mestre) onde moras?». Jesus respondeu: «Vinde ver». Então eles foram e viram onde Jesus morava. E começaram a viver com Ele naquele mesmo dia. Eram mais ou menos quatro horas da tarde. André, irmão de Simão Pedro, era um dos dois que ouviram as palavras de João e seguiram Jesus. Ele encontrou primeiro o seu irmão Simão e disse-lhe: «Encontrámos o Messias (que quer dizer Cristo)». Então André apresentou Simão a Jesus. Jesus olhou bem para Simão e disse: «Tu és Simão, filho de João. Vais chamar-te Cefas (que quer dizer pedra)». No dia seguinte, Jesus decidiu partir para a Galileia. Encontrou Filipe e disse: «Segue-Me». Filipe era de Betsaida, cidade de André e Pedro. Filipe encontrou-se com Natanael e disse: «Encontrámos Aquele de quem Moisés escreveu na Lei e também os profetas: é Jesus de Nazaré, filho de José». Natanael disse: «De Nazaré pode sair coisa boa?» Filipe respondeu: «Vem e verás». Jesus viu Natanael aproximar-se e comentou: «Eis um israelita verdadeiro, sem falsidade». Natanael perguntou: «De onde me conheces?» Jesus respondeu: «Antes que Filipe te chamasse, Eu vi-te quando estavas debaixo da figueira. Natanael respondeu: «Rabi, Tu és o Filho de Deus, Tu és o rei de Israel!». Disse-lhe Jesus: «Acreditas só porque te disse: Vi-te debaixo da figueira? No entanto, verás coisas maiores do que estas». E Jesus continuou «Eu vos garanto: vereis o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem. – Jo 1:35-51].

Dibujo 3 terminado sepia

         A convivência entre Cristo e os irmãos Zebedeu é demonstrada aquando dos casamentos de Caná da Galileia, como é relatado por João no seu evangelho – [No terceiro dia, houve um casamento em Caná da Galileia e a Mãe de Jesus estava presente. Jesus também tinha sido convidado para esse casamento com os seus discípulos. Faltou o vinho e a Mãe de Jesus disse-Lhe. «Eles já não têm vinho!». Jesus respondeu: «Mulher, que existe entre nós? A minha hora ainda não chegou.». A Mãe de Jesus disse aos servidores: «Fazei o que ele mandar». Havia ali seis talhas de pedra de uns cem litros cada uma, que serviram para os rituais de purificação dos judeus. Jesus disse aos servidores: «Enchei de água essas talhas». Eles encheram as talhas até cima. Depois jesus disse: «Agora tirai e levai ao chefe de mesa». Este provou a água transformada em vinho, sem saber de onde vinha. Os que serviam sabiam, pois foram eles que tiraram a água. Então o chefe da mesa chamou o noivo e disse: «Todos servem o primeiro vinho bom, e quando os convidados estão bêbedos, servem o pior. Tu, porém, guardaste o vinho bom até agora». Foi assim, que em Caná da Galileia, Jesus começou os seus sinais. Ele manifestou a sua glória e os seus discípulos acreditaram n`Ele. Depois disso, Jesus desceu para Cafarnaum com a sua Mãe, seus irmãos e seus discípulos. E ficaram ali apenas alguns dias. – Jo 2:1-12].

          São diversas as passagens que referem o que as Escrituras contam como um instante, e é o resultado de um processo de conhecimento mútuo. Cristo não propõe fazer pescadores de homens aos primeiros que encontra, mas com quem compartilha um conhecimento recíproco.

          Entende-se deste modo que Santiago, junto do seu irmão João e de Pedro, sejam os três apóstolos prediletos de Cristo, como revela sua presença em momentos importantes no Novo Testamento, como a transfiguração de Cristo no Monte Tabor, a ressurreição da filha de Jairo, e a Oração no Horto de Getsemaní. Recebe do seu Mestre um nome específico, Boanerges ou filho do trovão, que alguns relacionam com seu temperamento, mais do que intuição relacionada com a reação do irritamento paterno, pois esse apelido foi concedido aos dois irmãos Zebedeu, que deixaram bruscamente o seu pai com a tarefa das redes, o que também fizeram Pedro e André, jornaleiros na atividade profissional de Zebedeu, quem procedeu com compreensível reação de irritação, ao perder inesperadamente o seu pessoal mais fiel e próximo, talvez incluindo sua própria mulher, Salomé, que como referem as escrituras, era uma assídua seguidora de Cristo e acompanhava com frequência o grupo dos discípulos.

Dibujo 2 terminado sepia 

         É bem conhecida a petição materna, em que Salomé pede a Cristo que conceda um lugar preferencial para os seus filhos, pensando que o reino de que falava era terreno. [A mãe dos filhos de Zebedeu aproximou-se de Jesus com os seus filhos e ajoelhou-se para pedir alguma coisa. Jesus perguntou: «Que queres?» Ela respondeu: «Promete que os meus dois filhos se sentam, um à tua direita e o outro à tua esquerda, no teu Reino». Jesus, então disse: «Não sabeis o que estais a pedir. Acaso podeis beber o cálice que Eu vou beber? Eles responderam: «Podemos». Então Jesus disse: «Bebereis do meu cálice. Mas não depende de Mim conceder o lugar à minha direita ou esquerda. É para aqueles para quem meu Pai o tem reservado». Quando os outros dez discípulos ouviram isto ficaram com raiva dos dois irmãos. Mas Jesus chamou-os e disse-lhes: «Sabeis que os governadores das nações têm poder sobre elas e os grandes exercem sobre elas a autoridade. – Mt 20:20-25]. O momento é aproveitado pelo Mestre para ganhar o compromisso dos irmãos Zebedeu, ao mesmo tempo dos restantes: [Entre vós não deverá ser assim: quem de vós quiser ser grande, deve tornar-se o vosso servidor; e quem de vós quiser ser o primeiro, deverá tornar-se vosso servo. Pois o Filho do Homem não veio para ser servido. Ele veio para servir e para dar a sua vida como resgate em favor de muitos. – Mt 20:26-28]. Em sintonia com a máxima de uma das suas parábolas sobre o reino dos céus, a dos trabalhadores da vinha: os últimos serão os primeiros [De facto, o Reino do Céu é como um patrão que saiu de madrugada para contratar trabalhadores para a sua vinha. Combinou com os trabalhadores uma moeda de prata por dia e mandou-os para a vinha. Às nove horas da manhã, o patrão saiu de novo. Viu outros que estavam desocupados na praça e disse-lhes: «Ide vós também para a minha vinha. Eu pagar-vos-ei o que for justo». E eles foram. O patrão saiu de novo ao meio-dia e às três horas da tarde e fez a mesma coisa. Saindo outra vez pelas cinco horas da tarde, encontrou outros que estavam na praça e disse-lhes: «Porque estais aí o dia inteiro desocupados?» Eles responderam: «Porque ninguém nos contrata». O patrão disse-lhes: «Ide vós também para a minha vinha». Quando chegou a tarde, o patrão disse ao administrador: «Chama os trabalhadores e paga uma diária a todos. Começa pelos últimos e acaba nos primeiros». Chegaram aqueles que tinham sido contratados pelas cinco da tarde, e cada um recebeu uma moeda de prata. Em seguida chegaram os que foram contratados primeiro, e pensavam que iam receber mais. No entanto, cada um deles recebeu também uma moeda de prata. Ao receberem o pagamento, começaram a resmungar contra o patrão: «Estes últimos trabalhadores, uma hora só, e tu igualaste-os a nós, que suportámos o cansaço e o calor do dia inteiro!» E o patrão disse a um deles: «Amigo, eu não fui injusto contigo. Não combinámos uma moeda de prata? Toma o que é teu e volta para casa. Eu quero dar também a este, o que foi contratado por último, o mesmo que te dei a ti. Acaso não tenho direito de fazer o que quero com aquilo que me pertence? Ou estás com ciúme por eu estar a ser generoso? Assim, os últimos serão os primeiros, e os primeiros serão os últimos» – Mt 20:1-16]. Ou como no último jantar quando durante uma discussão entre os apóstolos sobre quem devia ser considerado o mais importante [Entre eles houve também uma discussão sobre qual deles deveria ser considerado o maior. – Lc 22:24] Jesus disse-lhes que quem quiser ser o mais importante que seja o servidor dos demais como ele acabava de fazer ao lavar-lhes os pés [Então Jesus levantou-Se da mesa, tirou o manto, pegou numa toalha e atou-a à cintura. Deitou água numa bacia e começou a lavar os pés aos discípulos e a enxugá-los com a toalha que tinha à cintura. Chegou a vez de Simão Pedro, este disse: «Senhor, Tu vais lavar-me os pés?» Jesus respondeu: «O que estou a fazer não podes compreender agora. Compreendê-lo-ás mais tarde». Pedro disse: «Tu vais lavar-me os pés!» Jesus respondeu-lhe: «Se não te lavar, não terás parte comigo». Simão Pedro disse: «Senhor, então podes lavar não só os meus pés, mas até as mãos e a cabeça». Jesus respondeu-lhe: Quem já tomou banho só precisa de lavar os pés, porque está todo limpo. Vós também estais limpos, mas nem todos». Jesus sabia quem O iria trair; por isso é que Ele disse: «Nem todos estais limpos». Depois de lavar os pés aos discípulos, Jesus vestiu o manto, sentou-Se de novo e perguntou: «Compreendestes o que acabei de fazer? Vós dizeis que Eu sou o Mestre e o Senhor. E tendes razão, porque Eu sou. Pois bem: Eu sou o Mestre e o Senhor, lavei-vos os pés; por isso deveis lavar os pés uns aos outros. – Jo 13:4-14].

          O que é importante recordar nesta análise, é a descrição da dimensão humana e histórica do Apóstolo Santiago e sua estreita relação com seu Mestre, que nos permite entender outros aspetos posteriores.

          Mas em Santiago existem elementos que na lenda desvirtuam a dimensão histórica da personagem, e que interessa conhecer para analisar o que pode existir por de trás destes.

          Depois da Ressurreição e Ascensão de Cristo algumas fontes situam Santiago pregando em Espanha, e no seu regresso a Jerusalém é preso e condenado à morte por Herodes Agripa.

Predicación SantiagoApresamiento y Juicio

          Esbocemos uma síntese da Lenda Jacobeia. Depois da morte de Santiago, os seus discípulos tomam o corpo, levam-no ao porto de Joppe, onde o embarcam e o trasladam por mar até Iria Flávia na Galiza Romana, em 7 dias e por 7 discípulos, contam algumas tradições. Aparece ao apelo, a Rainha Lupa que, perante o Legado Romano de Dugio, ordena prisão dado considerar que se trata de fugitivos de Roma; mas são libertos por um anjo. Fogem e são protegidos dos seus perseguidores pela submersão de uma ponte. Vencem um dragão e amansam uns touros bravos com a força do sinal da cruz, que conduzem o corpo santo até seu lugar de enterro. Este episódio provoca a conversão da Rainha Lupa, que faz a doação do lugar para a sepultura do corpo do Apóstolo.

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