Tradução por Paulo Santos
Compete descrever as quatro fases reconhecidas arqueologicamente, dentro de uma sequência em que de um mausóleo pagão se chega a uma necrópole paleocristã, de acordo com um processo dinâmico que se instaura no decurso de dois séculos.
A primeira, é a fase do Mausóleo romano pré-cristão, no início ou meados do Século I. Trata-se do panteão funerário da nobre família hispano-romano “Atia Moeta”, título que está descrito no sepulcro do mausóleo (que depois veremos com mais detalhe). A partir de um certo momento cronológico, acolhe o enterro de uma personagem emblemática compatível com o Apóstolo Santiago.
A segunda, é a fase da Cristianização e o início do culto sepulcral, do início a meados do Século II. As sepulturas das personagens identificadas como o Apóstolo Santiago, o Maior, e seus discípulos Atanásio e Teodoro, passam a ocupar a prioridade do mausoléu e possuem localização de destaque na Edícula (nicho), e na parte superior da mesma, instala-se um altar onde é prestado o culto, e que é construído a partir do que foi o sepulcro inicial mencionado. Isto é, o que era um mausoléu privado, é convertido num templo cristão de culto coletivo.
A fase seguinte, é de Ocultamento, entre meados e finais do Século II. Como medida de segurança, proteção e defesa, é coberta a Edícula (nicho) através de um muro envolvente abobadado de pedra lavrada e quadrangular, incluindo a construção de um muro de contenção no terreno alinhado com o mausoléu, e desta forma é provocado a ocultação por debaixo da terra, de parte ou de todo o edifício, o que origina a proliferação, espontânea ou provocada, de vegetação abundante que deixa soterrado o conjunto.
Finalmente, a fase de Necrópole Paleocristã. No final do Século II surgem as primeiras sepulturas e a partir do Século III sucedem-se os enterros cristãos até o Século VII, entretanto suspendidos devido à despovoação (fome, doenças), em que a atividade local é inexistente, e submerge no lugar uma densa vegetação e o consequente “esquecimento”, onde permaneceu durante séculos ocultado até ao momento da descoberta e popularização. Com o tempo, sucedem primeiro as sepulturas romanas, a seguir as suevas e depois as medievais, onde sobressalta a existência de elementos comuns que demonstram um culto corrente que indica:
1º todas as sepulturas estão orientadas com as cabeceiras para oeste e os pés para oriente;
2º todas são de inumação, sem vestígio de depósitos cinerários (comum em outras formas funerárias antigas);
3º ausência de símbolos e utensílios pagãos: utilidades metálicas, peças ornamentais, moedas ou enxoval funerário;
4º os cadáveres jazem estendidos na posição deitados de costas, cruzando as mãos sobre o abdómen.
A convergência destes dados, sistemáticos através dos séculos, sugere uma origem cristã da necrópole, desde as mais antigas sepulturas.